Eu me lembro que eu comecei ressignificando o céu.
Primeiro, ressignifiquei as cores --
O azul do dia e o dourado do fim de tarde de seus olhos;
O negro profundo da noite, as noites com você;
O pálido d'alvorada, sua pele alva.
Depois eu ressignifiquei o que era sensorial --
O frio da noite era a sua ausência;
O calor da tarde era o calor do teu seio e do teu abraço;
O orvalho da manhã a promessa de você, de tudo que eu anseio.
Então eu ressignifiquei o espaço,
e o que passava no céu
era sempre um pedaço
do que passou entre você e eu.
Fui além e ressignifiquei a noite.
E a noite era não-você.
E era você ao amanhecer,
e desvocê quando o sol vinha a se desfalecer.
E o céu todo foi sendo você --
E o céu todo era enfim você,
mas não era; Era o que não era
e era o que era, e eu então já não sabia
se quando no céu eu te via,
eu realmente te via ou só te sentia.
E quando dei por mim,
em braile as estrelas te soletravam
e em sânscrito os cometas te escreviam
e em Morse de você, de lá me contavam.
Ressignifiquei até o reflexo do céu no mar,
E quando o sol desce até se afogar,
a falta de ar que o faz sufocar
é você, quando vai embora sem vacilar.
Eu ressignifiquei, e ressignificando
eu te descobri - ou me descobri.
Eu ressignifiquei, talvez, a própria ressignificação
e agora eu já nem sei
se no meio disso tudo
eu não ressignifiquei também o meu coração...